CPLP indiferente à candidatura de Guterres
O ex-Primeiro-Ministro português António Guterres foi o escolhido para concorrer à secretaria-geral das Nações Unidas pelo Governo de Portugal. Apesar de ser um país lusófono, ainda não há manifestações a respeito a nível da CPLP, exceptuando Cabo Verde.
Embora o governo português avance com alguma convicção de que esta candidatura possa ser bem sucedida, alguns sectores da CPLP mostraram-se surpresos pela forma como Portugal avançou com a candidatura sem nenhuma consulta prévia aos restantes membros.
Outro elemento agravante é que adianta-se em alguns círculos de opinião a total abertura da CPLP, mas esse foi um debate que ainda não chegou a este órgão. A candidatura do ex-primeiro-ministro junta-se a várias outras já oficialmente apoiadas pelos governos da Bulgária, Croácia, Macedónia ou Eslovénia.
Ao que tudo indica, o governo português está a levar já a cabo os contactos internacionais e diplomáticos para assegurar apoios para a eleição de António Guterres como secretário-geral da ONU e a sua candidatura será apresentada oficialmente este mês. Isto significa que o Ministério dos Negócios Estrangeiros está a mobilizar a máquina diplomática e os contactos têm sido estabelecidos de modo a que a candidatura de António Guterres tenha hipóteses reais de poder tentar o sucesso na eleição do nome que irá substituir o sul-coreano Ban Ki-moon a 1 de Janeiro de 2017.
Entretanto, a diplomacia portuguesa já garantiu que António Guterres não será vítima do veto por parte de nenhum dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ou seja, da França, do Reino Unido, da Rússia, da China e dos Estados Unidos.
Além do prestígio que granjeou como alto-comissário para os Refugiados, António Guterres tem a seu favor o facto de ter sido primeiro-ministro de um país da União Europeia e nessa condição ter participado em várias cimeiras europeias, bem como ter presidido à União Europeia em 2000.
Mas ainda assim, de acordo com algumas leituras já feitas sobre as hipóteses desta candidatura, há dois obstáculos que se colocam à eventual eleição de António Guterres, nomeadamente o facto da necessidade de se eleger uma mulher para o cargo, uma vez que as Nações Unidas são responsáveis pelo enquadramento a nível mundial das políticas de igualdade de género e de defesa da paridade na representação e na ocupação de cargos por mulheres e homens, além do expresso desejo de que este seja ocupado por um candidato oriundo da Europa do Leste.
Refira-se que a eleição do secretário-geral das Nações Unidas, que decorrerá durante este ano, é um processo complexo que envolve vários equilíbrios geoestratégicos e que obedece à necessidade de os candidatos preencherem diversos critérios. Quanto ao processo eleitoral propriamente dito, ele passa por uma selecção prévia de candidaturas que é feita pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. É este órgão que escolhe o nome que é proposto à eleição pela Assembleia-Geral.
Quem é António Guterres?
– Pela mão de António Reis, aderiu ao Partido Socialista no ano da sua fundação, em 1973. Após o 25 de Abril de 1974, Guterres é nomeado chefe de gabinete do Secretário de Estado da Indústria dos I, II e III Governos Provisórios.
– Em 1976 estreia-se como deputado à Assembleia da República, onde virá a exercer funções como presidente das comissões parlamentares de Economia e Finanças (1977-1979) e de Administração do Território, Poder Local e Ambiente (1985-1988).
– Presidiu também à comissão de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (1983).
– Foi presidente da Assembleia Municipal do Fundão, entre 1979 e 1995.
– Eleito secretário-geral do PS em 1992, venceu as eleições legislativas de 1995 e de 1999, chefiando os XIII e XIV Governos Constitucionais, ambos minoritários e formados exclusivamente pelo PS. Presidiu à Internacional Socialista, entre 1995 e 2000.
– Exercia o cargo de primeiro-ministro quando se demitiu, na sequência das eleições autárquicas de Dezembro de 2001, em que o PS sofreu uma derrota significativa.
– Entre 2005 e 2015, António Guterres exerceu o cargo de Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
– Guterres foi homenageado recentemente pela Universidade de Carleton, em Otava, no Canadá, pelo seu papel na “protecção dos refugiados”, em termos globais.
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