O mais recente relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), confirmou, mais uma vez, que o mundo não está no caminho certo para alcançar os objetivos fundamentais, traçados pela estratégia técnica global, com o intuito de diminuir o impacto da malária, relativamente ao período de 2016 a 2030. Reduzir a morbidade (taxa de portadores da doença) e a mortalidade (número de mortes, ocorridas num determinado período de tempo ou espaço) em, pelo menos, 40% até 2020, foram as metas pré-delineadas pela OMS e pelos países-membros. No entanto, o relatório evidenciou que o panorama continua preocupante, uma vez que cerca de 3.5 milhões de casos extra de malária foram registados nos 10 países africanos mais afetados, durante o ano de 2017.
O documento anual demonstrou que Moçambique é o país com a terceira maior percentagem (5%) de casos de malária no mundo. Além disso, é o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas). Mais de 90% dos casos e das vítimas mortais foram registados no continente africano e, tal como foi observado nos estudos anuais anteriores, a maioria são crianças.
De acordo com o documento, estima-se que a malária tenha ceifado a vida a 435 mil pessoas em 2017 (61% eram crianças com menos de cinco anos), menos 3.5% que em 2016 e uma redução em cerca de um quarto do número de mortes calculado em 2010 (607 mil). Apesar de existirem menos mortes, o ritmo de combate à doença – que se registava desde o ano de 2010 – estagnou, essencialmente a partir de 2015.
Análise do contexto mundial
O grupo de países mais afetado é composto pela Índia e por 10 países de África: Burkina Faso, Camarões, República Democrática do Congo, Gana, Mali, Níger, Nigéria, Uguanda, Tanzânia e Moçambique. Segundo o documento, a atual evolução mundial dos casos “não permite alcançar os objetivos de redução em 40% até 2010”. Para o futuro, esperam-se medidas revigoradas e maior financiamento, para que seja possível alcançar esta meta.
“Ninguém deveria morrer de malária”, já que é uma doença que pode ser evitada e tratada. Contudo, a “luta está a estagnar, colocando em risco anos de trabalho, investimento e sucesso na redução” do número de pessoas afetadas, referiu o diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, aquando a apresentação do relatório anual, apresentado em Maputo (capital de Moçambique), sobre a situação da malária no contexto global.
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Estimam-se cerca de 400 mil mortes para o ano de 2018. “Precisamos de avançar mais rápido”, refere o relatório, acrescentando que é fundamental traçar e implementar uma estratégia “mais agressiva” de ataque à doença, procurando uma maior mobilização da classe política dos países mais afetados, entre os quais, Moçambique.
Segundo a agência noticiosa Deutsche Welle-África, Pedro Alonso, Diretor do Programa Mundial contra a Malária da OMS, aquando da divulgação do relatório em Maputo, referiu que “a Nigéria representa 25% do total dos casos de malária registados mundialmente“, a República Democrática do Congo (11%) é o segundo país com o maior índice e Moçambique está em terceiro lugar – a nação lusófona mais afetada pela malária. Angola surge em 13.º lugar, com 2% do total mundial de casos.
Apesar de Moçambique se destacar no ranking global, a agência das Nações Unidas destacou que “a transmissão da doença está estabilizada” neste país africano. Segundo os dados apurados, a população moçambicana está a conseguir reduzir o número de mortes por malária. Segundo a estimativa da OMS, foram registadas cerca de 12 mil a 17 mil mortes provocadas por malária em 2017, em Moçambique – valores que estão em queda desde 2010, ano em que o intervalo variava entre 14 mil e 20 mil mortes.
Em suma, Angola e Moçambique foram os países que retrocederam na luta contra a malária, durante o ano passado, mas continuam a ser os países africanos de língua portuguesa mais afetados. Já Cabo Verde e Timor-Leste são apontados como os territórios onde a doença é menos problemática, sendo considerados exemplos a seguir.
A nova abordagem política a seguir
A vontade política dos países afetados, em prol da redução das mortes pela doença, a informação estratégica para impulsionar o impacto das medidas, a implementação de melhores diretrizes políticas e a aposta numa resposta coordenada dos países mais abalados pela doença, resumem os quatro pilares do plano estratégico global, lançado pela OMS, para erradicar a malária. Além disso, esta organização apelou aos países-membros para que os fundos, disponibilizados para o combate da doença, fossem aumentados de forma consistente.
Durante a cerimónia, a ministra da saúde de Moçambique, Nazira Abdula, reconheceu o impacto da malária no seu país, destacando que esta doença “representa um peso no sistema de saúde, tanto em recursos humanos das unidades sanitárias, como na aquisição logística de medicamentos e outros produtos: a distribuição das redes mosquiteiras e custos de pulverização intradomiciliária, são apenas alguns do exemplos”. Desta forma, a ministra realçou a necessidade de se estabelecer um compromisso político que alimente a iniciativa de combate, recorrendo a ações de promoção e prevenção da malária, bem como de tratamento”.
Estamos a falar de qualidade de vida e, para que esta tenha a devida manutenção, é fundamental existir um acesso seguro, igualitário e eficaz aos serviços de saúde. Para o futuro, fica a promessa de uma parceria política e económica, com proporções globais, capaz de melhorar a vida das populações mais afetadas.