Conexão Lusófona

Coisas que a gente cria: inspiração ao pé do ouvido

(Imagem: Coisas que a gente cria)

 

Bárbara Nickel é uma jornalista brasileira apaixonada por cibercultura, mas mais apaixonada ainda pela arte de contar histórias. Na sua carreira, trabalhou em grandes portais de informação. Ela sempre teve uma ligação próxima com a tecnologia, o que a levou a participar da criação e implementação de portais de notícias e estratégias de redes sociais para o maior grupo de comunicação do sul do Brasil.

 

Desde o início de 2016, ela tem usado todo este conhecimento para executar um novo projeto pessoal: o Coisas que a Gente Cria, um podcast de conversas com pessoas inspiradoras.

 

Os episódios são tão ecléticos quanto a palavra “inspirador” pode ser. De uma maratonista que se especializou nas provas mais difíceis que você possa imaginar à criadora de um portal com dicas sobre intercâmbios, todas as entrevistas apresentam uma conversa intimista com a entrevistada, em episódios repletos de momentos em que você pensa “era isso que eu precisava ouvir hoje”!

 

Conversamos com a Bárbara para conhecer mais detalhes deste projeto que está só começando e já tem muito potencial para ganhar a atenção – os ouvidos – do mundo:

 

Conexão Lusófona – Antes de mais, conta um pouco sobre como surgiu essa ideia…

Bárbara Nickel – O mais honesto é dizer que veio de muitos lugares, é uma colagem de ideias. Acho que dois momentos principais nessa história: em um deles, eu estava pensando em um produto digital de jornalismo para desenvolver para um curso que estou fazendo. Como exercício, comecei a projetar uma arquitetura complexa e gigante de conteúdos voltados a mulheres e seus dilemas profissionais, focado em liderança e empreendedorismo. Em um segundo momento, eu tive uma vontade gigante, quase uma necessidade, de realizar, de tirar do papel pelo menos uma parte disso. Acredito que a leitura acidental do livro da Sheryl Sandberg (Lean In), há uns dois anos, tenha tido um papel importante também nessa história. Foi quando comecei a refletir sobre o fato de que mulheres por muito tempo não foram – e em muitos casos ainda não são – criadas para se tornarem líderes. Sei que esse livro é meio polêmico, mas para mim foi importante, me abriu os olhos para coisas que até então eu não estava atenta.

 

CL – Por que um podcast?

Bárbara – Antes de tudo, eu amo podcasts. Sou ouvinte há muitos anos. Inclusive escrevi um texto listando nove razões para amar podcasts. O principal motivo é que é possível consumir um conteúdo profundo, muitas vezes bastante longo, enquanto faço outras atividades. Eu ouço muitos podcasts de entrevistas. Ano passado, quando me deu essa vontade de realizar uma parte do projeto, pensei que o podcast seria um formato interessante. É algo que eu poderia fazer sozinha, não precisaria contratar ninguém. Eu não queria fazer vídeo porque não ficaria confortável e também é uma logística um pouco mais complexa. Também não queria fazer em formato de texto. Acho que o áudio de uma entrevista é muito poderoso: tem o ritmo da fala, as pausas, os momentos de dúvida que são percebidos na voz, tem uma série de elementos que podem desaparecer no texto. Eu nunca havia feito nada parecido, nunca havia trabalhado com áudio, nunca havia sido uma entrevistadora. Mas é o formato em que me senti minimamente confortável para arriscar.

 

CL – Como tem sido o retorno de quem ouve as entrevistas?

Bárbara – Eu ainda fico bastante surpresa ao receber comentários de pessoas que eu não conheço ou não imagino que ouviriam. O projeto é recente e eu não tenho ainda bem definido o perfil de quem ouve, até porque as entrevistadas são muito diferentes e, a cada semana, atraem ouvintes diferentes. Eu estou bastante feliz com o retorno.

 

CL – Já foram mais de uma dezena de entrevistas, com perfis variados de mulheres nestes dois meses de projeto. Até agora, houve alguma história ou comentário que você ouviu e mexeu com você de forma mais íntima, “caiu a ficha” de algo sua própria trajetória pessoal?

Bárbara – Sim! Apesar de elas serem bem diferentes, tem algo que as une: são todas realizadoras. Seja qual for a área, a motivação, o interesse, o que elas têm em comum é que elas criaram alguma coisa. Claro, as coisas são tão diferentes quanto abrir uma academia, cobrir ao vivo na TV grandes eventos jornalísticos mundiais ou lançar um negócio de assinatura de alimentos saudáveis para gestantes. Ou uma agência de publicidade digital. Enfim, eu sei que cada ouvinte relaciona as histórias das entrevistadas com a sua própria vida e tira suas próprias conclusões. A minha conclusão é bem simples mas a sensação foi de uma grande revelação: confiar em si mesma faz toda a diferença. Para realizarmos algo, precisamos de alguma autoconfiança. E essa confiança é como uma aposta: não é que eu tenha certeza que vou me sair bem fazendo isso, é que eu aposto que sim. Vejo que algumas receberam isso da família, outras desenvolveram com o tempo, e nem todas têm na mesma medida. Mas é algo que tem me feito pensar bastante.

 

CL – Como é feita a seleção das entrevistadas?

Bárbara – Eu tenho procurado pessoas com histórias ou interesses diferentes. Quero ouvir pessoas diferentes entre si e diferentes de mim. Alguns amigos e amigas dão sugestões e é comum que as entrevistadas também recomendem outras pessoas que elas conhecem. Eu procuro pessoas que tenham criado ou realizado algo diferente e interessante, nem que seja uma transformação profunda na própria vida.

 

CL – Numa das nossas conversas você comentou que está “obcecada com entrevistas”, estavas sentindo falta disso na tua rotina, de ouvir histórias que inspiram?

Bárbara – Na verdade, eu ouço muitas entrevistas. Desde que comecei a fazer o podcast, o que mudou foi que comecei a prestar mais atenção na postura e nas técnicas do próprio entrevistador, nas coisas que ele faz para extrair o melhor possível daquele momento. Eu gosto de ouvir entrevistas de todo tipo de gente, até algumas que não me trazem inspiração nenhuma. Tenho uma curiosidade grande de saber como outras pessoas pensam, vivem e, mais importante, como elas se organizam para contar a própria história. Eu acho que estava sentindo falta de ouvir com profundidade pessoas um pouco mais próximas da minha realidade, já que boa parte dos podcasts que ouço são americanos. Continuo amando todos eles, mas quero também ouvir histórias de gente que vive seus dilemas no mesmo idioma que eu, em um contexto mais parecido com o meu. E acredito que muita gente também sente falta disso.

 

CL – Pela forma como as entrevistas são apresentadas e pelos textos que acompanham, a sensação é que estar naquela casa/sala/café com bolinhos junto com vocês, passa uma intimidade cativante… Isso foi proposital ou “por acaso”?

Bárbara – Essa é a sensação que eu tenho quando escuto outros podcasts longos de entrevistas em que o entrevistado fala de si, além de falar daquele tema no qual ele é especialista ou com o qual ele trabalha. É isso que eu gosto ao ouvir esse tipo de podcast, é essa intimidade. Eu fico feliz de conseguir recriar esse efeito com as minhas entrevistas, fico feliz quando alguém me diz isso, porque é o que eu gosto nos outros. Eu diria que é proposital, embora eu não tenha certeza do que exatamente eu estou fazendo para gerar esse efeito 🙂

 

CL – E para o futuro do projeto, você tem algo planejado? Daqui a um ano, onde você quer ver os podcasts? 

Bárbara – A cada semana eu fico muito entusiasmada com a nova entrevistada que estou colocando no ar. Então eu diria que o meu plano mais imediato é trabalhar para que mais gente ouça, para que mais gente se inspire com elas. Outro plano é incluir entrevistas com homens, até porque tem muitas histórias interessantes de caras legais por aí. Só não sei quando, porque também a cada semana eu acabo descobrindo mais mulheres com quem eu quero falar. Quem sabe no futuro aumento a frequência de publicação para dar vazão a tanta gente criadora que existe por aí? É uma possibilidade!

 

Ficou curioso(a)? Clica aqui para saber mais sobre o projeto, ou clica aqui para ouvir outras entrevistas que ela já fez.

 

(Imagem: Coisas que a gente cria)
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