Cecília Meireles, Malala e Aldous Huxley: os seus livros já fazem parte do ensino médio brasileiro
É uma novidade: a partir do próximo ano, os alunos do ensino médio da rede de escolas públicas brasileiras vão poder levar para casa obras literárias (entre outro material didáctico) que, até este momento, estava reservado às bibliotecas e à consulta nas salas de aula, com o objectivo de serem reutilizadas pelas turmas futuras.
A ideia foi proposta pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático Literário (PNLD). Segundo o Ministério da Educação brasileiro, a escolha das obras coube aos professores, directores e coordenadores pedagógicos das várias escolas credenciadas no país.
Nesse catálogo de livros essenciais destinados ao ensino médio foram escolhidos, entre outros, a autobiografia de Malala Yousafzai (intitulada Eu sou Malala, 2013), – a jovem activista paquistanesa distinguida com o Nobel da Paz em 2014 pela sua defesa convicta do direito à educação e à escolaridade – os poemas da celebrada poetisa e professora brasileira Cecília Meireles (1901-1964), – conquistou o Prémio da Academia Brasileira de Letras, foi condecorada com o grau de Oficial da Ordem de Mérito do Chile e agraciada com o título Honoris Causa pela Universidade de Nova Deli, na Índia – e ainda o famoso Admirável Mundo Novo (publicado em 1932), do escritor britânico Aldous Huxley (1894-1963), sobre a distopia de uma sociedade artificial enquadrada integralmente por códigos científicos e tecnológicos.
A professora de língua portuguesa do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Margareth Tringoni, citada pela jornalista paulista Vivian Masutti, considera que esta iniciativa promovida pelo PNLD irá contribuir para uma maior personalização do acesso à leitura por parte dos alunos do ensino médio:
“A leitura na biblioteca, ou em projetos de sala de leitura, fica restrita ao ambiente. As crianças precisam de tempo e muitos estímulos para criar o gosto pela leitura. É imprescindível esse acesso individual, particular e customizado, em uma proposta séria de aquisição de vocabulário, de interpretação adequada do enredo e de despertar interesse pela leitura”
Apesar de concordar com a importância da leitura individual, num espaço íntimo como é o lar doméstico, a assessora de projetos da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, entende que o papel das bibliotecas não se deve ser descurado pelas escolas e que os alunos devem participar democraticamente na escolha das obras que devem ler na sua formação pessoal:
“Se os professores, os diretores, os coordenadores pedagógicos puderem discutir com os estudantes a escolha dos livros de literatura e também os livros didáticos, isso sempre é muito mais frutífero porque uma gestão democrática gera apropriação de cultura, então gera educação e aprendizado”
Cândido Grangeiro, sócio de uma pequena editora responsável pela publicação dos livros seleccionados pelo catálogo, afirma que esta apropriação individual do livro é uma “conquista enorme”, uma vez que o aluno “tem um acesso maior à literatura”, permitindo também dinamizar financeiramente o mercado editorial.
Uma última nota importante: a posse dos livros não tem, porém, um carácter definitivo, pelo que as obras oferecidas aos alunos do ensino médio das escolas públicas no Brasil, no início do ano lectivo, terão que ser devolvidos, ao final de 1 ano, aos respectivos estabelecimentos de ensino.
PS: O autor deste artigo obedece às regras do antigo acordo ortográfico.
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