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Brasil e Portugal guardam praias de areias medicinais únicas

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A procura por tratamentos naturais que possam livrar o corpo das dores, sem que este fique entupido de químicos, tem crescido paulatinamente — e, se o cenário de cura estiver envolto de águas cristalinas e temperatura que convida a banhos, melhor ainda. Agora, já é possível cuidar de si enquanto desfruta da brisa marítima — no Brasil ou em Portugal. Ambos os países lusófonos contêm praias de areias medicinais, capazes de curarem doenças.

 

O areal da ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira (Portugal), estende-se por nove quilómetros, marinando junto às águas do Atlântico. Conta já com 35 mil anos e contém propriedades terapêuticas únicas, atraindo, anualmente, centenas de turistas que procuram livrar o corpo dos males musculares.

 

A mesma raridade verifica-se nas areias medicinais e radioativas da Praia da Areia Preta, em Guarapari (Espírito Santo, Brasil). Este local encontra-se plantado bem no centro urbano, sendo afamado pela concentração de minerais pesados de cor escura, que ajudam a prevenir o cancro e os problemas de ossos.

 

Segundo as investigações científicas, os lugares supracitados possuem um currículo medicinal de fazer inveja. Deste modo, perseguindo o objetivo de o colocar a par das suas aptidões e especialidades clínicas, deixamos-lhe, em baixo, um breve guia sobre singularidades terapêuticas naturais.

 

As areias medicinais da ilha de Porto Santo

 

Areal da ilha de Porto Santo (arquipélago da Madeira, Portugal) — Imagem: Wikimedia Commons

Sabe-se que a areia de Porto Santo tem sido usada, desde há largos anos, no tratamento de doenças reumáticas e ortopédicas — como a artrite reumatoide, artroses, gota, osteoporose ou fibromialgia. Os habitantes da ilha vizinha, oriundos da Madeira, sempre recorreram — e recorrem — a este local para curar várias maleitas. Há quem o considere “o segredo mais bem guardado do Atlântico”.

 

De acordo com os estudos científicos, as propriedades terapêuticas do areal foram minuciosamente estudadas, testadas e confirmadas. Apesar de Porto Santo ser de origem vulcânica, as suas areias, em vez de escuras, são douradas — daí o epíteto de “Ilha Dourada”.

 

Porto Santo é apelidado de “Ilha Dourada”, devido à singular coloração do areal (arquipélago da Madeira, Portugal) — Imagem: Greg Men, Flickr

Segundo os especialistas, a maioria das praias portuguesas e europeias são compostas por grãos siliciosos — de quartzo —, fazendo com que o refúgio insular se distinga largamente da composição dos demais. Contrariamente, por ali, a areia é carbonatada biogénica, contendo enxofre, cálcio, magnésio e estrôncio (um anti-inflamatório natural). Essencialmente, é composta por bioclastos de algas vermelhas (rodófitas) e por microfósseis — e outras tantas espécies de seres vivos —, que lhe conferem um quê de excecional ao ADN.

 

De mão dada a todas as características supracitadas, encontra-se a sua textura extremamente fina, composta por partículas lameares, de fácil aderência à pele. Graças à sua singularidade, a areia consegue atingir temperaturas altas por bastante tempo — em dias de céu limpo e vento fraco, o areal de Porto Santo pode alcançar os 65 graus Celsius.

Areias medicinais: o tratamento

 

Devido à fama que a persegue, é frequente ver-se turistas enterrados na praia. No entanto, apesar de ser uma terapêutica natural, devido à ação da erosão e à exposição da radiação ultravioleta, a viabilidade do tratamento só consegue ser garantida em ambientes controlados — providenciados por spas locais.

 

Durante o processo de cura, os pacientes entram numa espécie de banheira que, aos poucos, vai sendo coberta de areia. Gradualmente, esta será aquecida até atingir os 40 graus Celsius. Como a temperatura é mais elevada do que a do corpo humano — que varia entre os 36 e os 37 graus —, potenciará o processo de transpiração. Deste modo, o ácido do suor libertado irá dissolver parcial e quimicamente os carbonatos da areia, permitindo a absorção do cálcio, do magnésio e do estrôncio pela pele.

 

Terminado o “banho de saúde”, à medida que o suor vai secando, os iões vão sendo sorvidos pelo corpo e, consequentemente, incorporados nos fluidos celulares e intercelulares, chegando até à corrente sanguínea. Segundo os especialistas, estima-se que durante a psamoterapia — tratamento com banhos de areia — o paciente pode perder cerca de um quilograma a um quilograma e meio, devido à perda de água e derretimento de gordura (reações termoquímicas).

 

Como Porto Santo não é apenas areia, ressalvamos que as suas águas, por conterem um elevado teor de iodo, são quase que “milagrosas”. Ajudam a combater problemas osteomusculares e musculares, reumatismos circulatórios, pele, celulite e equilíbrio. Mais uma vez, aconselha-se o tratamento em ambientes controlados. O que o mar dá, depois de devidamente tratado, fará o resto — e, de acordo com os relatos de quem tem experimentado, o corpo agradece.

 

As areias medicinais de Guarapari

 

Praia da Areia Preta (Guarapari, Espírito Santo, Brasil) — Imagem: Esther Dias, Flickr

A Praia da Areia Preta, em Guarapari, no estado brasileiro de Espírito Santo, está localizada numa região central e urbanizada. Apesar de pequena, possui uma fama desmedida — não pelas ondas incríveis, ou pela beleza balnear incomparável, mas pela areia monazítica. O nome pode parecer pomposo e técnico, mas as suas propriedades terapêuticas são de fácil apreensão.

 

O areal de Guarapari é composto por uma concentração de minerais pesados, que lhe conferem uma tonalidade escura — não é difícil de perceber a origem da nomenclatura. Há já muito tempo que atrai turistas aos molhos que, em vez de banho de mar, procuram relaxar em areias medicinais. Por lá, é comum verem-se pessoas deitadas, enquanto absorvem o gás terapêutico.

 

Graças à sua cor, este tipo de areia consegue atingir uma temperatura elevada. Assim que o calor entra em contacto com as suas propriedades químicas e minerais, é libertado um elemento radioativo gasoso: o radão ou radônio. Este, por sua vez, quando inalado em pequenas quantidades, pode ajudar a prevenir o aparecimento de cancro e de doenças inflamatórias.

 

Areia monazítica (Guarapari, Espírito Santo, Brasil) — Imagem: Pinterest

Segundo os estudos científicos realizados por investigadores da Universidade Federal do Espírito Santo, ao longo de 10 anos, comprovou-se que existe uma menor incidência de casos de cancro da mama no município, quando comparado com os restantes do estado — dois em cada grupo de 100 mil mulheres.

 

Quando equiparados aos valores comuns, os níveis de radiação da Praia da Areia Preta são 13 vezes mais elevados. Ainda assim, não são considerados prejudiciais para a saúde. Aliás, os estudos comprovaram que estes valores de radiação estimulam a defesa do corpo; não tratam doenças, mas previnem-nas — como se criassem a fórmula de uma vacina eficaz.

 

A radioatividade da areia monozítica de Gurapari é tão rara que, segundo os registos históricos, durante a II Guerra Mundial, os Estados Unidos da América — depois de estabelecerem negociações secretas e acordos internacionais com o Brasil — chegaram a exportar toneladas (e toneladas…) desta matéria-prima. Há quem defenda que o fizeram com o intuito de a introduzirem no programa de produção de armas nucleares. Segundo alguns boatos, foi usada para criar a bomba que caiu na cidade japonesa de Hiroshima, devastando-a em 1945.

 

Tramas nucleares e especulações à parte, o importante a realçar são os benefícios da praia de Guarapari para a saúde. Segundo os especialistas, ninguém deve levar areia para casa — além de ser um recurso natural que se esgota, este só previne doenças no ambiente em que está inserido. É graças à temperatura da atmosfera que a condimenta, com a ajuda do iodo e sal marítimos, que o quadro terapêutico se compõe. Todos estes fatores juntos, em perfeita harmonia, reforçam a saúde — a areia, por si só, não é milagrosa.

 

Quanto à bula natural da Praia da Areia Preta, basta um passeio diário à beira-mar, enquanto se desfruta da tranquilidade balnear, durante 20 minutos — mas as certezas ainda são poucas, até que os testes científicos terminem. Os efeitos secundários ainda não foram devidamente registados.

 

É caso para perguntar: não valerá a pena averiguar os benefícios do turismo de saúde? Em caso de dúvida, arrisque — pelo menos, eliminará duas cidades (Porto Santo e Guarapari), assim como dois países (Portugal e Brasil), da lista de experiências.

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