Cereal e suco de caixinha no café da manhã (pequeno-almoço), lasanha congelada no almoço, um pacote de salgadinhos ao meio da tarde e macarrão instantâneo para o jantar. Reconhece esta rotina alimentar?
A comida altamente industrializada, que surgiu como uma alternativa conveniente e esporádica, acabou se tornando rotina nas mesas de famílias pelo mundo todo. Mas a praticidade agora cobra seu preço: enquanto a expectativa de vida aumentou entre as últimas gerações, as crianças da atualidade provavelmente viverão menos do que seus pais. E muito da culpa será, justamente, das comidas industrializadas e fast-foods.
O alerta não é novo: este alarme foi disparado ainda em 2010, pela então diretora-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Margaret Chan, que afirmou que a atual geração de crianças pode ser a primeira, em muito tempo, cuja expectativa de vida tende a ser 10 anos mais baixa do que a de seus pais.
De acordo com Chan, das 35 milhões de mortes anuais por doenças não contagiosas, cerca de 40% são mortes prematuras causadas por infarto, diabetes e asma. Ela lembrou que a incidência dessas doenças é cada vez maior em jovens e crianças – que atualmente desenvolvem hipertensão e diabetes, doenças comumente associadas ao envelhecimento.
A epidemia do século XXI
As estatísticas apontam que a obesidade infantil é a que cresce mais rapidamente no mundo, e o cenário agravado por mudanças nos hábitos alimentares, ampla oferta de produtos hipercalóricos (mas nada nutritivos) e menos atividades físicas nas horas de lazer preocupa médicos que lidam com o problema.
No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o Ministério da Saúde revelam que uma em cada três crianças de cinco a nove anos está acima do peso recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A pesquisa é de 2009 e, em comparação com os números de 1974, o registro do excesso de peso na infância triplicou, passando de 9,7% para 33,5%. A projeção para 2025 é de que a quantidade de crianças obesas chegue a 75 milhões, caso nenhuma providência seja tomada.
Na Europa, mais de 27% das crianças com 13 anos e 33% com 11 têm excesso de peso. Portugal ocupa a segunda posição entre os países com piores indicadores: aos 11 anos, 32% das crianças têm peso a mais.
Como explica a endocrinologista Zuleika Halpern, crianças que têm dietas baseadas em alimentos industrializados vivem mal alimentadas e, por consequência, estarão sempre com fome.
— São produtos nada nutritivos e que causam um efeito que chamamos de fome rebote. Ela come um pacote de bolachas inteiro e, depois de duas horas, já está com uma fome violenta. Isso acontece porque há um pico de insulina com a ingestão de tanto açúcar. É diferente de uma criança que come um prato de comida, e que vai ficar sem fome por, no mínimo, quatro horas.
Para além de ser uma doença em si, a obesidade é o “meio do caminho” para outras doenças crônicas, como o diabetes, problemas cardiovasculares, alguns tipos de câncer e algumas doenças renais.
Ou seja: a obesidade nas crianças não só faz com que elas fiquem doentes, mas também faz com que tenham chance de morrer prematuramente de infarto, câncer e diabetes. Além dos problemas físicos, que incluem também alterações hormonais e, posteriormente, sexuais, a obesidade infantil é responsável por distúrbios alimentares e depressão, podendo levar, inclusive, ao suicídio na adolescência.
Muito além do peso
O documentário “Muito além do peso”, de Estela Renner, aborda a falta de conhecimento dos pais sobre as informações nutricionais dos produtos comprados para seus filhos – com imagens e pesquisas que mostram bebês experimentando refrigerante pela primeira vez antes de completar um ano, por exemplo. O filme também aborda a venda de alimento atrelada a brinquedos e os maus hábitos alimentares, induzidos pela publicidade, que agrega um valor emocional aos produtos cheios de açúcar e gordura.
Assista ao documentário na íntegra:
População brasileira é a que mais consome agrotóxicos no mundo