A polémica começou quando, no passado dia 4 de dezembro (2018), o encontro de representantes da sociedade civil com o Presidente de Angola decorreu sem Rafael Marques. Fundador do Maka Angola, o ativista viu a sua entrada negada por não constar da lista de convidados. Na mesma reunião, estiveram presentes, entre outras figuras, Luaty Beirão, Alexandra Simeão e o Frei Júlio Candeeiro.
Após o sucedido, Rafael escreveu um texto no qual informou os seguidores acerca da ocorrência. No final do breve comunicado, pode ler-se:
“Serve a presente nota para esclarecer a verdadeira razão da minha ausência no encontro do PR João Lourenço com a sociedade civil. A segurança não permitiu a minha entrada, por eu não constar da lista final de convidados. Os serviços de apoio do PR até podem ter uma melhor explicação. Vi à porta altos funcionários da Presidência e da assessoria de imprensa. Eu estive lá, mas não me deixaram entrar.” – Rafael Marques
Para retificar o mal entendido, João Lourenço convocou o ativista para uma audiência privada, a realizar-se no dia seguinte. Decorrida a reunião, podemos ler o que Rafael Marques tem a dizer sobre o diálogo com o presidente. Segundo as suas afirmações, o presidente encorajou-o a prosseguir com o seu trabalho. “A luta contra a corrupção, incluindo o repatriamento de capitais, é uma das prioridades do seu governo. Para o efeito, conta com o contributo dos cidadãos na moralização da sociedade”, escreveu Marques. Rematando, o ativista e jornalista angolano reforçou que encontrou um dirigente “franco e aberto“.
O Maka Angola é um portal no qual Marques investiga a corrupção e a violação dos direitos humanos no país. Sendo o seu trabalho de “conhecimento público”, como o próprio considerou na sua primeira nota, a surpresa perante o ocorrido gerou alguma polémica. Felizmente, JLO, como é apelidado pelos cidadãos, conseguiu uma mudança de roteiro e assegurar a devida conversa com o ativista.
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Mesmo com estas circunstâncias inesperadas, ambos os encontros representaram um momento histórico. Durante a anterior governação, apenas organizações militantes se reuniam com a figura máxima do país. Por isso, o convite de João Lourenço só poderia ser bem recebido por parte dos representantes da sociedade civil. Gerou-se, assim, um novo momento de diálogo que pode transformar o modelo de governação em Angola.
Além da corrupção nacional e dos problemas de saneamento, a conversa também passou por temas mais delicados, como a Operação Restauro. Esta tem como objetivo a erradicação das vendas ambulantes – as chamadas zungueiras -, importantes fontes de lucro para cidadãos com baixos rendimentos. A polémica gerada por esta medida foi gritante nas redes sociais e mal vista por inúmeras figuras, anónimas e públicas.
Embora os problemas mais graves do país estejam, ainda, bem latentes no quotidiano da população, esta abertura de João Lourenço poderá servir para renovar a esperança na prosperidade.