Deixamos o aviso prévio que este artigo fará as delícias dos mais gulosos. Não escolhemos apenas doces ligeiros para forrar a barriga. Fizemos questão de eleger as melhores sobremesas (segundo a nossa curadoria) que complementam a gastronomia dos países de língua oficial portuguesa. Por isso, além de partilharmos o idioma, chegou a altura de dividirmos a mesa.
Embora existam muitas pessoas que preferem os salgados aos doces, a verdade é que as sobremesas caiem sempre bem. Independentemente da hora ou do lugar, segundo a ciência, o nosso cérebro envia-nos mensagens que nos desviam do amargo, compelindo-nos a atacar o que é mais açucarado. Aliás, se pensarmos bem, percebemos que a palavra “doce” é quase sinónimo de tudo o que é agradável. Façamos o exercício: uma pessoa simpática é adjetivada como sendo “doce”; uma ação agradável ou aprazível desencadeia gestos considerados “doces”; os perfumes mais frutados são considerados “doces” e, normalmente, são os que mais agradam ao olfato. Poderíamos ficar a deambular pelo universo dos açúcares durante imenso tempo, mas, para evitarmos hiperglicemias, vamos ao que interessa e falemos de sobremesas.
A palavra sobremesa, morfologicamente, é composta pela preposição sobre mais o vocábulo mesa. Neste caso, sobre significa após e mesa significa refeição. Portanto, sobremesa significa aquilo que sucede a refeição principal e que, normalmente, é constituída por ingredientes doces, frutas, compotas, etc.. Existe toda uma panóplia de elementos que ajudam a dar forma e cor a uma sobremesa, enchendo as medidas dos seus apreciadores. Estas que elencaremos a seguir, além de serem doces, ajudam a promover parte da cultura gastronómica dos países de língua oficial portuguesa. O importante é que, quando comemos, somos todos críticos gastronómicos. Por isso, fique atento e deixe-se levar pela arte da doçaria.
Angola: máhime ou matete
O máhime, também conhecido como matete (se substituir o leite por água), é uma sobremesa típica da região de Huambo. É feita à base de farinha de milho (500 gramas), leite (1,5 litro), açúcar (75 a 80 gramas) e canela a gosto (para polvilhar). Faz lembrar o leite-creme ou, como os franceses lhe chamam, o crème brûlée.
Para preparar esta sobremesa, precisa de levar o leite juntamente com o açúcar a aquecer em lume brando. Assim que levantar fervura, junta-se lentamente a farinha de milho e vai-se mexendo com uma colher de pau para não ficar com grumos. Se quiser, também pode adicionar uma raspa de limão para equilibrar com o açúcar. Quando estiver devidamente cozido (leva normalmente três a cinco minutos), precisa apenas de distribuir a mistura por pequenas taças e polvilhar com canela ou açúcar, conforme as preferências.
Fonte: Sabores de África
Brasil: quindim
O Brasil é uma país de sobremesas. Em cada estado existe algum doce que se derrete na boca, banhando a pessoa que o come com felicidade. Na impossibilidade de falar de toda a doçaria tradicional, decidimos escolher apenas um exemplo. O quindim, doce adaptado de uma receita conventual portuguesa, é muito típico no território brasileiro. A receita original levava amêndoas, mas estas foram substituídas por coco na região do nordeste, tornando-se rapidamente um sucesso por todo o país. Na base desta sobremesa temos o coco ralado (50 gramas), leite de coco (uma chávena), ovos (10 gemas), manteiga (40 gramas) e açúcar (200 gramas).
Se quiser arriscar e lançar-se à doçaria, coloque o açúcar num recipiente e adicione o leite de coco e o coco ralado. De seguida, acrescente as gemas e a manteiga; misture bem até incorporar todos os ingredientes. Pegue numa forma de pudim, unte-a com manteiga e polvilhe-a com um pouco de coco. Deite a mistura no recipiente e cozinhe-a em banho-maria, durante 35 minutos, a lume brando. Também pode cozinhá-lo no forno a 110 graus, aproximadamente por 50 minutos. Assim que estiver cozido, é só esperar que arrefeça para desenformar.
Fonte: PetitChef
Cabo Verde: bolo de banana
Embora Cabo Verde não seja considerado um produtor mundial relevante de banana, este é um dos frutos com mais importância para a agricultura local e um dos mais mais apreciados pelos cabo-verdianos. Deste modo, é muito frequente encontrá-lo incorporado em várias receitas de pratos salgados e doces. Exemplo disso é o bolo de banana, servido em ocasiões especiais ou datas festivas. O corpo deste doce é feito com manteiga (200 gramas), açúcar (200 gramas), leite (100 mililitros), ovos (quatro gemas), farinha (250 gramas), sal (uma pitada), fermento (duas colheres), caramelo líquido (a gosto), bananas maduras (seis) e canela (a gosto).
Se quiser experimentar, bata a manteiga amolecida com o açúcar, até obter uma massa esbranquiçada. Dilua as gemas (mas não se livre das claras) no leite e vá acrescentando a essa mistura. De seguida, junte a farinha, o sal e o fermento. Mexa tudo muito bem até obter uma massa homogénea. Acrescente quatro bananas raladas. Bata as claras em castelo e envolva-as na massa que preparou. Forre uma forma com caramelo, distribua duas bananas cortadas (às rodelas) pelo recipiente e polvilhe com canela. Encha a forma com a massa e coza-a no forno. Só precisa de se certificar que está cozido, para desenformar e servir.
Fonte: Sabores de Cabo Verde
Guiné-Bissau: doce de mancarra
A palavra crioula mancarra significa amendoim. Este ingrediente é um dos mais exportados de Guiné-Bissau e um dos mais populares na gastronomia local. Existem imensos pratos temperados com esta vagem, mas o que decidimos escolher foi o doce de mancarra. Esta guloseima típica faz lembrar os torrões de chocolate ou os de amêndoa. É feita à base de amendoim descascado (um pacote = 250 gramas), água (duas chávenas), açúcar (duas chávenas) e leite condensado (uma lata).
Para experimentar doce de mancarra, coloque o amendoim numa panela com água e açúcar. Deixe cozinhar até o líquido evaporar. Depois, adicione o leite condensado, mexendo bem até formar uma pasta. De seguida, vá tirando algumas colheradas e vá moldando a massa em pequenas barras. Assim que esfriar, ficará um doce duro e estará pronto a comer.
Fonte: Gastronomia da Guiné-Bissau
Moçambique: bolo de mandioca
A plantação de mandioca, em Moçambique, tem crescido exponencialmente. Este ingrediente também faz parte das monoculturas agrícolas, servindo para alimentar diversas famílias. Desta forma, torna-se no elemento perfeito para diversificar a gastronomia moçambicana. O bolo de mandioca cumpre esse exemplo. É feito com açúcar (uma chávena e meia), manteiga (três colheres), farinha de trigo (uma chávena e meia), ovos (oito gemas), leite de coco (200 mililitros), água (um copo) e, claro, mandioca ralada (500 gramas).
É a altura indicada para colocar “mãos à obra”. Faça uma calda com o açúcar e a água, deixando ferver até ficar no ponto. Desligue o lume e adicione a manteiga, dissolvendo-a. Num outro recipiente, misture a mandioca ralada com as gemas e o leite de coco. Adicione a mistura à calda de açúcar que fez inicialmente. Unte uma forma de bolo com manteiga e polvilhe com açúcar. Verta a mistura e deixe-a no forno, durante 50 minutos. No final, só precisa de desenformar, decorar a gosto (pode polvilhar coco ralado) e provar.
Fonte: Rota dos Sabores
Portugal: pão-de-ló de ovos-moles
A doçaria portuguesa está repleta de iguarias regionais. Os ovos-moles são um doce típico do distrito de Aveiro. Esta pequena bomba calórica é um doce conventual que resistiu ao tempo e continua a surpreender palatos de várias culturas. Em Ovar (cidade do distrito de Aveiro), confecionam-se os ovos-moles com pão-de-ló, popularmente conhecido como pão-de-ló de Ovar. Resultado: um bolo húmido no centro e fofo nas bordas, comido à colherada, em poucos minutos, pelos apreciadores. Este doce é confecionado com muitos ovos (11 gemas e dois inteiros), sal (uma pitada), açúcar (200 gramas), farinha de trigo com fermento (80 gramas), fermento em pó (uma colher de chá), manteiga (a suficiente para untar a forma) e papel vegetal (dependendo do tamanho da forma).
Quem quiser experimentar, precisa de bater as gemas com os ovos inteiros, misturando o sal e o açúcar, durante 15 minutos. Precisa de ter a batedeira na velocidade máxima e tudo tem que ficar muito bem envolvido. Coloque a farinha e o fermento em pó na mistura e misture tudo com uma colher. Unte uma forma redonda, sem buraco, com manteiga. Depois coloque o papel vegetal, também untado. Verta a massa na forma e leve ao forno pré-aquecido a 180 graus. Deixe cozer durante 35 minutos. Perceberá que o pão-de-ló com ovos-moles está devidamente cozido, assim que espetar um palito e constatar que as bordas estão firmes e o centro do bolo estiver húmido. Depois, retire do forno e deixe arrefecer dentro da forma. Só pode desenformar depois de frio, mas a espera valerá a pena.
Fonte: Sabor Intenso
São Tomé e Príncipe: açucarinhas
Em São Tomé e Príncipe, existe um lugar conhecido por Ilhéu do Coco. Apesar de não estar habitado, este local ajuda a entender a abundância deste fruto no país. O coco, além do cacau, é um dos alimentos mais exportados. Se percorrermos alguns livros de gastronomia típica de São Tomé, conseguimos constatar que muitos dos molhos que a acompanham são feitos à base de coco. Desta forma, decidimos eleger a açucarinha como a representante doce do seu património gastronómico. Este doce típico é feito, tal como o nome indica, à base de açúcar (um quilo), coco (quatro embalagens de 100 gramas de coco ralado), limão (algumas raspas) e água (dois a três copos).
Para experimentar, precisa de colocar o coco numa panela com açúcar e com água. Para equilibrar o sabor, deite uma raspa de limão na calda. Deixe cozer em lume brando. Assim que o açúcar começar a caramelizar e atingir o ponto de caramelo, desligue o lume. Com a ajuda de uma colher, coloque pequenas porções do preparado em cima de uma superfície plana e limpa (de preferência forrada com papel vegetal). Deixe arrefecer e sirva as açucarinhas já solidificadas. Parece fácil, certo?
Fonte: Sabores pelo Mundo
Timor-Leste: doces mano ten
A gastronomia timorense, apesar de ser influenciada pelos métodos e sabores asiáticos, conseguiu manter, ao longo do tempo, uma identidade própria. Esta é comummente adjetivada como exótica e fascinante. Nos seus pratos, cheios de cor e sabor, encontramos impressões orientais, africanas e europeias. Nas sobremesas, a aposta na banana é muito frequente, devido à produção agrícola do país. Deste modo, escolhemos os doces “mano ten” para o exemplificar. Esta sobremesa é comparada aos sonhos (doce frito associado à quadra natalícia) e é comida a qualquer altura do dia. É feita à base de farinha (250 gramas), leite (500 mililitros), açúcar (250 gramas), bananas (quatro bem maduras), fermento (meia colher) e ovos (quatro).
Se estiver interessado em saborear esta guloseima típica, junte todos os ingredientes num recipiente e misture-os muito bem (as bananas precisam de ser bem esmagadas). Deixe repousar durante alguns minutos. De seguida, faça pequenas bolinhas com a mão e frite-as em óleo bem quente. Retire o excesso de gordura dos bolinhos, com a ajuda de um guardanapo de papel, e polvilhe-os com açúcar ou canela (a gosto). Estão prontos a servir: delicie-se.
Fonte: Sítio do Sol Nascente
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