Conexão Lusófona

Angola: Luaty Beirão continua em estado “desconhecido”

(Imagem: Reprodução opais.co.ao)

O ativista angolano, Luaty Beirão, detido desde 20 de Junho, está em perigo eminente de vida devido à greve de fome em que se encontra. Após passar os últimos 19 dias em greve de fome, Luaty Beirão está tão debilitado que não consegue mais beber água e passou a sofrer desmaios na prisão. “Ele já não se aguenta em pé, está em estado muito grave”, disse Pedro Coquenão, amigo próximo do músico de 33 anos, citado pelo BBC Brasil no dia 8 de Outubro.

Conforme reportamos aqui, em junho, 15 ativistas cívicos foram presos em Luanda. Os jovens estavam reunidos numa residência particular com o objetivo de ler e discutir um livro sobre técnicas de ação não violenta visando a substituição de regimes ditatoriais. Alguns destes ativistas tornaram-se conhecidos nos últimos anos ao darem o rosto, em diversas manifestações, a favor da democratização e pacificação de Angola, e de um desenvolvimento social mais justo. Tais manifestações foram sempre duramente reprimidas pela polícia.

O governo angolano acusou os jovens de atentar contra a ordem pública e segurança de Estado. Num discurso público, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos veio caucionar a acusação, associando-a ao que se passara com os trágicos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.

De seguida, vários movimentos se uniram contra a detenção e uma campanha pela libertação do grupo – conhecido como 15+1 – mobilizou nas últimas semanas vários artistas e escritores de países lusófonos, entre os quais Chico César, Emicida, Lourenço Mutarelli, Mia Couto e José Eduardo Agualusa.

Segundo a DW para África, na manhã de quinta-feira (08.10), um grupo de ativistas e familiares deslocou-se à cadeia de Calomboloca para se inteirar do caso. Enquanto isso, a Amnistia Internacional (Assine aqui a petição) diz que os jovens foram presos por “simplesmente exercerem o seu direito de liberdade de expressão” e levou uma campanha de sensibilização em prol de Luaty Beirão quando se tomou conhecimento do seu débil estado de saúde.

Na noite de quinta-feira, amigos e parentes dos ativistas detidos se reuniram para uma vigília em frente à Igreja Sagrada Família, em Luanda. “Luaty, aguenta. És um verdadeiro guerreiro”, dizia um dos cartazes portados pelos manifestantes. A vigília foi seguida por centenas de pessoas e decorreu defronte da Igreja da Sagrada Família por intermédio de velas, cânticos e orações. Este foi igualmente um momento de exaltação da liberdade através de declamação de poemas, aqui destacamos o seguinte:

“Oito De Outubro De Dois Mil e Quinze

um jovem preso não sabe distinguir o amarelo dos dias…das dores ácidas do estômago nas poucas lembranças que lhe seguram aos dias
“que dias são estes…?”, insiste a voz de dentro, um pequeno átomo de força inventa animosidade, rebenta e se esgota, faz o jovem mover os pés em direcção a muito perto, caminha não por exercício, mas porque o ruído dos pés lhe quer lembrar que talvez ainda esteja vivo

a boca tão parada, tão dentro, os tremores no peito, aflitivos, uma espécie de falta de ar, uma espécie de desespero intermitente, ora dói aqui, ora dói ali, “melhorar procurar onde não dói…”, nestes dias absurdos onde até os olhares e os sorrisos de quem o vê, são vistos sob uma perturbadora falta de nitidez…”
No dia seguinte a vigília de apoio à Luaty Beirão, o diretor do serviço penitenciário, que falava à Rádio Nacional de Angola, reconhece que o preso político está debilitado fisicamente, mas desvaloriza a informação de que o jovem esteja em greve de fome.
No dia 09 de Outubro, de acordo com artigo publicado na Rede Angola pelas 9 da manhã, António Joaquim Fortunato (Serviço Penitenciário) disse também que Luaty Beirão se encontrava internado no posto de saúde da cadeia de Calomboloca.

“Há uma realidade que é preciso deixar clara, é o facto de ele estar internado na unidade penitenciária de Calomboloca que dista mais ou menos 100 quilómetros da cidade de Luanda. Isso para os familiares e fundamentalmente para aqueles que têm a missão de fazer a transportação de alguns bens essenciais que ele necessita, porque declarou que  não se sentia em segurança alimentando com os meios alimentícios fornecidos pela cadeia, esses têm tido dificuldades na deslocação. Há também este factor a considerar. De resto ele está vivo”, reafirmou.

As últimas informações publicadas na página de facebook “Luaty Beirão” (gerida por familiares e amigos) dão a indicação de que Luaty foi transferido para o Hospital Prisão São Paulo. No dia de hoje, familiares e amigos tentaram uma visita às 10 horas da manhã no entanto, até ao momento da publicação da mensagem no facebook, ainda aguardavam a decisão do diretor sobre autorização de visita sem qualquer informação sobre o seu estado de saúde.
Como ações de seguimento e protesto têm sido organizadas vigílias semelhantes à de Luanda em mais cidades lusófonas.
Ontem aconteceram vigílias nas cidades de Lisboa – Portugal, e Mindelo – Cabo Verde, tendo juntado centenas de pessoas em prol da causa. A próxima vigília/caminhada irá acontecer em Lisboa e está convocada para o dia 14 de outubro, com partida às 17.30 do Largo Jean Monet numa caminhada que culminará no Rossio, mais especificamente no Largo São Domingos às 18.30.

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