Eu e Paulo Flores somos um caso de amor recente…E como todos os amores recentes, vive da euforia, da adrenalina e da vontade de se querer descobrir mais.
Posso até mesmo afirmar que no último ano a sua música esteve presente em momentos que me foram muito especiais e que com certeza irão permanecer na memória.
Descobri o “Excombatentes” numa viagem de carro, rumo ao litoral norte de Portugal, na companhia de dois amigos muito queridos – um angolano e uma brasileira. Mal entrei no carro assumi o comando da cabine de Dj e comecei a vasculhar os cds perto de mim. Ali estavas tu Paulo…oferecias-me três cds que encaixavam perfeitamente em três horas de viagem. Foi amor à primeira vista… Naqueles momentos encheste de orgulho um angolano entraste em Portugal e no Brasil. Promoveste trocas culturais intensas, boas conversas, diferentes perspectivas. A partir daí, muitos textos escrevi ao som das tuas músicas, muitas ladeiras de Lisboa subi na tua companhia sempre presente no meu mp3.
A envolvência foi tal, que quis descobrir mais…procurei a tua discografia, apurei sonoridades que estavam lá longe nas memórias dos tempos em casa da avó que sempre escutava músicas dos anos passados em África. Não bastasse tudo isto, fizeste-me querer ver e sentir Angola de perto.
Tive a oportunidade de conhecer um país novo convicto na sua nacionalidade, firme na sua indepêndencia. Uma Angola que, diariamente, se procura a si própria, se desenha, se reinventa… Meus olhos fitaram uma Luanda de construções e de poeira…Luanda das kitandeiras, da Cuca gelada, dos Candongueiros sem rumo. Luanda das conversas com kotas sábios e vividos, dos sembas no Rangel e no Chá de Caxinde, Luanda da juventude…
Um país real, que se sente de verdade e que tu cantas tão bem.
Acompanhaste-me em toda esta viagem e nem sabias né? Tiveste uma quota parte de responsabilidade em todos estes momentos, em todas estas descobertas… Agora diz-me só: não é caso p’ra me apaixonar por ti mwangolé?
Soubeste lançar o feitiço e hoje és tão meu como uma Mariza, um Tito ou uma Sara…és meu património imaterial. Património de uma geração global, misturada no sangue e nas coordenadas geográficas, ávida por descobrir os seus pontos de partida e, quem sabe, construir alguma chegada.
E o mais engraçado, é eu sentir em cada acorde teu, em cada rasgo da tua voz, a vontade sincera de percorrer esse caminho connosco, de construir esse gigante e rico puzzle de uma lusofonia de afectos e de esperança; toda ela livre, reinventada e orgulhosa das suas várias latitudes.
E quem disse que a euforia das paixões recentes dura pouco?! Nosso caso é p’ra toda a vida. Pelo menos, enquanto tu quiseres continuar a cantar-me aos ouvidos.
(Texto escrito para o livro “Paulo Flores, o Talento da Utopia“, em homenagem aos 20 anos de carreira de Paulo Flores.)