O ato de amamentar em público continua a ser censurado e julgado por muitos. Por todo o globo, existem relatos de mães indignadas que foram repreendidas por autoridades, instituições e pessoas comuns, apenas porque decidiram suprir a necessidade básica dos seus bebés: mamar. A amamentação é um ato próprio dos mamíferos e não é segredo para ninguém que o leite materno é o alimento mais saudável que uma mãe pode dar a um filho. Além disso, se o bebé for alimentado através da mama, é mais benéfico ainda: está pronto a servir, à temperatura ideal, independentemente do lugar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as vidas de cerca de 820 mil bebés poderiam ser salvas, todos os anos, se todas as mães seguissem a recomendação (da OMS) de iniciar a amamentação horas depois do parto e seguindo com a prática pelos próximos seis meses. Para esta agência da Organização das Nações Unidas, as mulheres deveriam continuar a amamentar os filhos até atingirem os dois anos de idade, complementando a dieta com outros alimentos. Tendo em conta estas recomendações e uma vez que um bebé precisa de mamar de três em três horas (aproximadamente), como é que a amamentação em público continua a ser condenada?
Nos dias que correm, o discurso do aleitamento tem entrado em cena, mas sempre de forma acautelada. Continua a ser um assunto tabu, causando desconforto nos olhares alheios. Por isso, têm surgido movimentos ativistas – como o Normalize Breastfeeding – e campanhas que tentam combater o estigma da amamentação em público. Na Índia, uma mulher foi capa de uma revista, enquanto amamentava o filho. Na Argentina, milhares de mães amamentaram em público, como símbolo de protesto contra a ação policial. Uma modelo decidiu alimentar a filha, sem qualquer pudor, em pleno desfile para a revista Sports Illustrated. Tendo em conta estes exemplos, é caso para perguntar: um bebé não pode ter fome quando anda com a mãe na rua? Uma mãe não pode alimentar o filho de forma descomplicada, mesmo estando em público? Como é que um ato natural e inato, representado há séculos até pela iconografia religiosa, continua a levantar tantas questões? A fogueira do debate continua acesa.
Com o intuito de assegurar o conforto necessário a todas as mães em período de aleitamento, um estúdio de design em Praga, na República Checa, criou um banco com uma característica especial: permite amamentar em público, mas com privacidade. Chama-se Heer e promete ajudar todas as progenitoras que pretendem cuidar dos filhos em qualquer lugar.
“Estranhamente, no século XXI, as mães ainda são regularmente forçadas a amamentar os seus bebés em lugares inadequados que muitas vezes são pouco higiénicos e desagradavelmente isolados. Mas este cenário pode mudar”, lê-se no site oficial do projeto, da autoria do estúdio 52hours. Deste modo, vislumbrando essa mudança, os esforços foram canalizados na criação do Heer, um banco ergonómico que promete ajudar todas as mamas a amamentar confortavelmente em espaços públicos – shoppings, parques, aeroportos, instituições públicas, paragens de autocarros, empresas, etc..
Da ideia à concretização
Ivana Preiss e Filip Vasic, os fundadores do Heer, explicaram à Dezeen, uma revista de arquitetura e design, que esta ideia pretende ser um “pequeno oásis de paz” em espaços públicos, isolando as mães, enquanto amamentam, do ambiente urbano agitado. “Embora a prática da amamentação em público esteja cada vez mais entranhada, muitas mães ainda se sentem desconfortáveis com essa ideia, devido aos entraves culturais e psicológicos que se fazem sentir”, afirmaram os designers.
O desenho deste projeto surgiu depois de Preiss e Vasic testemunharem a vergonha sentida por uma mãe em amamentar o filho em público. Consequentemente, debruçaram-se em pesquisas e perceberam que a situação era mais frequente do que imaginavam, sendo que o entrave, mais do que social e cultural, era prático. Perseguindo o objetivo de recolherem mais informações, encarregaram-se de enviar um questionário para mais de 100 mães, espalhadas por diversos países. No final, constataram que não existia nenhuma infraestrutura que se assemelhasse ao Heer e que garantisse aquilo que este projeto assegura: privacidade e conforto.
Quanto às características físicas e às funcionalidades, este banco, produzido com materiais reciclados, balança, permitindo o embalamento e relaxamento dos bebés, enquanto são alimentados. Além disso, consegue girar, possibilitando a manutenção da privacidade no espaço e desviando os possíveis olhares intrusivos. Se, por algum motivo, a mãe estiver acompanhada e precisar de amamentar o seu filho, as pessoas que estiverem com ela podem sentar-se numa extensão do banco e fazer-lhe companhia.
“Não estamos a decidir se as mães devem amamentar em espaços públicos ou não; é claro que elas devem amamentar onde e como quiserem. Tentamos apenas oferecer uma escolha para aquelas mães que sentem que atualmente não têm uma, garantiram Ivana Preiss e Filip Vasic, em declarações à Dezeen. “Estamos conscientes de que as normas e os hábitos sociais não podem mudar da noite para o dia. Nesse sentido, vemos o nosso projeto como uma ferramenta para quebrar alguns estigmas”, acrescentaram.
Normalmente, grandes ideias comportam grandes nomes. Neste caso, o nome do projeto é curto em letras, mas tem dois significados. Por um lado, significa “ela” em inglês (her), com mais um “e” quando se escreve. Por outro, foi inspirado na resposta à pergunta mais formulada pelas mães em espaços públicos: onde posso amamentar? “Here” que significa aqui.
Atualmente, os criadores do projeto estão à procura de parceiros e potenciais investidores para dar início ao processo de comercialização. Enquanto isto não se concretiza, o estúdio de design 52hours convida todos os interessados, no site oficial, a pedirem um banco de aleitamento materno para a sua cidade. Se quiser comparticipar na emancipação da ideia, carregue aqui.