– Cara, eu ADORO essa música! Que música é essa? Sabe o nome?
– Não sei, procura no Shazam.
Certamente você já presenciou um diálogo parecido enquanto estava numa festa/festival/evento/noitada com amigos. Agora imagine que você encontra a música, mas que na mesma hora em que fica sabendo o nome da dita-cuja, “descobre” que a letra da canção, na verdade, incita a violência contra a mulher…
É esta a proposta da iniciativa “Músicas de Violência“, uma parceria entre a agência FCB Brasil e o jornal Estado de S. Paulo, com o apoio do Disque Denúncia do Rio de Janeiro, que alerta para os discursos de violência contra a mulher que aparecem nas músicas.
Por meio do Shazam – app de pesquisa e descoberta de músicas que escuta o que está sendo tocado ao redor e identifica instantaneamente músicas e letras – a campanha faz um cruzamento de dados para mapear quais são as músicas nacionais e internacionais que possuem letras sobre abuso e violência.
Selecionadas a partir de uma curadoria, músicas que falem ou façam apologia à violência contra a mulher terão um “recurso extra” no aplicativo: toda a vez que uma pessoa utilizar o app para identificar uma dessas canções, um banner irá avisá-lo sobre isso com a frase “Esta música contém violência contra a mulher.”. E um áudio com um depoimento real de mulheres que sofreram agressão semelhante à letra da música.
– Violência contra mulher é crime e com essa campanha temos a chance de usar a música e a tecnologia para levantar a questão sobre o tema. A ideia não é censurar nada, mas convidar para reflexão- comenta Joanna Monteiro, CCO da FCB.
O legal da iniciativa é que ela consegue se “infiltrar” na rotina das pessoas, propondo novos canais para estimular a reflexão. Porque raramente as letras de música são “lidas” pelo que são: uma narrativa. Especialistas acreditam que esse tipo de música não é apenas um retrato de uma sociedade que naturaliza a violência doméstica, mas também tem um papel ativo em estimular, em certa medida, o feminicídio.
– Quando se coloca na letra de uma música popular um comportamento violento, sem uma reflexão por trás, é uma forma de banalizar a opressão. De certa forma, isso estimula as agressões — comenta Marisa Sanematsu, diretora de conteúdos do Instituto Patrícia Galvão, que zela pelos direitos das brasileiras, em entrevista ao jornal O Globo.
O machismo está tão presente na cultura popular que, muitas vezes, dificulta que a própria mulher perceba que é vítima de relacionamentos abusivos. Por isso, não se surpreenda se, entre as suas músicas favoritas, encontrar alguma cuja letra faça apologia à violência contra a mulher.