Na semana em que se celebra o quadragésimo aniversário daquela que foi a eleição mais emblemática de Portugal, as eleições para a Assembleia Constituinte de 1975, recordamos também as dramáticas eleições dos últimos anos. Dramáticas, não por serem o culminar dos esforços de campanha ou por quaisquer resultados inesperados, mas pela afluência às urnas por parte dos portugueses. Ou, mais propriamente, pela falta desta.
Abstenção, essa palavra a que todos nos fomos acostumando, perdeu o significado que outrora teve. Aliás, são poucas as pessoas que na flor dos seus vinte e poucos anos se lembram de um início de telejornal, em dia de eleições, que não comece com a manchete “A ABSTENÇÃO VOLTOU A AUMENTAR”, ou algo de teor semelhante. Esta evolução da abstenção é um fenómeno tão longínquo, que são poucas as pessoas com menos de 50 anos de vida, que podem afirmar lembrar-se de como foi ver o número da abstenção a diminuir.
De facto, desde as eleições legislativas de 1980 que o valor da abstenção não registou uma diminuição e dos modestos 8,34%, registados em 1975, passámos para os assustadores 41,93% em 2011. Assustadores, porque quando pensamos que quase metade da população portuguesa não vota, isto é, abdica de um dos seus escassos momentos de decisão directa do rumo do seu país, não podemos deixar de nos sentir preocupados com o futuro de Portugal e, até mesmo, de nós próprios.
É no auge destas reflexões que as palavras ditas por Florbela Espanca há quase 90 anos, ressoam na nossa mente e, estranhamente, nos fazem agora tanto sentido, como fizeram em 1926: “O Silêncio é às vezes o que faz mais mal quando a gente sofre”. Preparamo-nos para as eleições de 2015 com receio de que o som mais ouvido seja o silêncio daqueles que vivem num país em crise, que vêem que algo está mal e por ser dito e que por ignorância, comodismo ou protesto não dizem, esquecendo-se que a sua voz é fundamental para a melhoria de Portugal. Assim, renovando o repto da geração que lutou para que tivéssemos o direito ao voto livre respondo: Abstenção? Não, obrigado.