A ideia de que pessoas bem sucedidas financeiramente são as que mais têm capacidade para ocupar cargos públicos, como o de prefeito por exemplo, ficou enraizada na mente de muitos brasileiros durante muito tempo. Chegava a ser uma espécie de reverência ao mais rico, como se ele fosse a melhor pessoa para conduzir o barco – uma imagem que associa riqueza a “saber o que faz”. E isto, na verdade, não é um conceito válido. E agora, depois de décadas, começamos a entender isso.
Lembro-me bem, ainda nos anos 1980, 1990, pessoas usavam frases como “fulano é um empresário de sucesso. Já tem dinheiro e não vai precisar roubar. A família dele é rica e não precisa disso” para justificar seu voto. Ocorre que o que vemos acontecer atualmente no Brasil é que centenas de endinheirados que ocupam cargos públicos estão envolvidos em investigações, acusações e condenações. Pior que isso: blindados em privilégios políticos – como a imunidade parlamentar que os protegem praticamente por toda sua vida.
E para entrar no esquema, o investimento é alto, seja para um prefeito de uma cidade pequena ou para um deputado federal. E, assim como no mundo dos negócios, todo investimento prevê retorno. Daí fica fácil entender porque muitos utilizam a política para construir riqueza pessoal. É claro que estou generalizando, mas a proporção entre honestos e desonestos não deve ser muito positiva. Você deve acompanhar noticiários e sabe disso.
Se todo investimento e “esforço” destes “profissionais” é voltado para construção de riqueza própria, mais cedo ou mais tarde estes investidores farão parte de um grupo de pessoas em que o dinheiro promoverá benefícios bem diferentes do que estavam acostumados. E para aqueles que já vinham do berço dourado, basta continuar investindo para manter-se no grupo ou subir de categoria. Sabe aquela história: boi preto anda com boi preto? É mais ou menos isso.
Agora, sugiro a seguinte reflexão: 1º) Como uma pessoa que visa a construção de patrimônio para si mesma terá uma visão coletiva e altruísta para a sociedade em que vive? 2º) Como esta pessoa poderá entender as reais necessidades e aspirações de uma maioria que vive em outro universo?
Um exemplo bem simples para expressar esse cenário são as casas populares. Alguém perguntou às pessoas que nelas vão viver, como gostariam que fossem construídas? Se a disposição daqueles minúsculos cômodos, promovem ou promoverão uma vida digna a elas? Nem é preciso dizer que somente com os desvios e superfaturamentos destas milionárias obras, daria para fazer muita coisa diferente e melhor (lembra da riqueza individual?)
Os “estudos” que são feitos para promover os serviços públicos não são baseados nas reais necessidades das pessoas que os usarão. A incoerência nessa relação é evidente, e espero, sinceramente, que este legado dos abastados seja reduzido ao tamanho das casas populares que constroem. Talvez assim, comece a prevalecer valores realmente morais e éticos em nossa sociedade.