O Guarda Cabeça é uma tradição realizada em Cabo Verde, sete dias após o nascimento do bebé. Reza a lenda, que na noite que antecede o sétimo dia de vida da criança, as bruxas vêm buscá-la, sugando-lhe a cabeça enquanto dorme. Este mito nasceu numa época em que predominavam as mortes de recém-nascidos, originadas por complicações de saúde, aliadas à falta de cuidados médicos. Muitas dessas mortes aconteciam antes do sétimo dia de vida, o que fez com que se começasse a questionar o porquê. Várias crenças interrogaram-se sobre se as forças malignas não estariam a roubar a vida dessas crianças e, para isso, era urgente contrapor com as forças do bem, principalmente com orações.
O Guarda Cabeça é celebrado ainda nos dias de hoje. À meia-noite do sétimo dia, após o nascimento da criança, amigos e familiares reúnem-se à volta do bebé, juntos rezam uma oração e “encantam” com a morna do poeta Eugénio Tavares, “Ná, Ó Menino ná”, ao som de violões e cavaquinhos. O ambiente de outrora de tensão e receio da presença dos espíritos malignos, é agora substituído pelo espírito de festa e convívio, ao som de música, comida e dança.
Ná, Ó Menino ná
Ô rosto doce de odjo maguado,
Es bo cudado
Botal pa traz
Nhor Dés ta dano um bida de paz
De odjo maguado
Ná, ô menino ná.
sombra rum fuji de li!
Ná, ô menino ná,
Dixa nha fidjo dormi
Sono de bida, sonho de amor
Ou graça, ou dor,
Es ê nós sorte…
Se Deus, más logo, mandano morte,
Quem que tem medo
Ta morrê cedo.
Toma nha ombro, encosta cabeça
Já n’dabo peto,
Amá “ragaz”
Ô espirito doce, ca bo tem pressa
Deta cu jeito
Dormi na paz.
Eugénio Tavares