Um vaso sanitário que dispensa água e rede de esgotos, porque é equipada com produtos químicos que transformam os dejetos humanos em fertilizante, e que, além disso, não deixa odores. Parece mentira, não é? Pois bem, pela mente de Bill Gates, co-fundador da Microsoft e grande pensador da área da tecnologia, aquilo que parece impossível pode muito bem tornar-se uma realidade. A apresentação desta ideia aconteceu durante o evento “Reinvented Toilet Expo”, no dia 6 de novembro de 2018, em Pequim (China), na qual o empresário se fez acompanhar de um pequeno recipiente com fezes humanas – o que pode ter despertado algumas gargalhadas na audiência mas, certamente, também muita curiosidade.
A proposta de Gates, uma sanita reinventada, resulta de um trabalho de quase uma década por parte da Fundação Bill e Melinda Gates e de um investimento de cerca de 200 milhões de dólares (mais de 177 milhões de euros) – que, muito provavelmente, ainda irá duplicar. Por sua vez, essa investigação resultou na criação de 20 protótipos sanitários cujo principal objetivo passava por destruir germes e impedir a propagação de doenças da forma mais sustentável possível, para serem utilizadas em países com baixos recursos económicos e estruturais. De acordo com as estimativas do magnata, prevê-se que este tipo de sanitas esteja disponível para uma distribuição de grande escala em 2030.
A grande inovação não está, necessariamente, na sanita em si, uma vez que já outras existem no mercado (as chamadas “sanitas secas”) com o mesmo tipo de habilidade: funcionamento sem água ou rede de esgoto, que igualmente não deixa maus cheiros e transforma os dejetos em fertilizante. O que ainda não existe é o sistema sanitário, como um todo, dentro de uma proposta como a que foi apresentada pelo americano, que alicia investidores e empresas. É através desse encadeamento que estas sanitas irão levar as grandes corporações a contribuir, de maneira lucrativa, para o progresso de países em desenvolvimento.
Graças ao trabalho de uma “excecional equipa mundial de engenheiros, cientistas, empresas e universidades” – palavras de Bill Gates durante a apresentação -, foi possível reinventar o sistema de limpeza urbana.
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Quanto ao recipiente, este serviu para ilustrar como uma pequena quantidade de dejetos humanos é suficiente para causar inúmeros problemas a quem não tem acesso a um saneamento decente. Nos resíduos nele contidos, estavam concentrados cerca de 200 bilhões de células de rotavírus, 20 mil milhões de bactérias Shigella e 100 mil ovos de parasitas. Assim, Gates salientou como a esterilização de resíduos humanos pode evitar 500 mil mortes de crianças e economizar US$ 233 biliões por ano (mais de 206 mil milhões de euros) em custos para o tratamento de doenças como diarreia e a cólera.
Pode ler a versão integral e original da participação de Gates no evento aqui. Para uma melhor compreensão do sistema de funcionamento destes vasos sanitários, assista a este vídeo: