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A culpa é do senhorio!

Imagem: Reprodução Jornal de Negócios

 

Chega a uma altura, em que por mais que estejamos bem em casa dos pais, começamos a ter aquele desejo quase instintivo de ter o nosso próprio “cantinho”, o nosso “buraquinho”, o nosso teto. Lamentavelmente, os senhorios de casas em Lisboa levam de tal maneira as nossas palavras à letra, que por momentos equacionamos viver em casa dos pais até aos 40 anos. Mas já lá vamos…!

 

Arrendar casa em Lisboa há uns anos, para um jovem, não era um bicho de sete cabeças. Isto porque existiam por aí casas mais pequenas, que para uma família eram impensáveis, mas que para um jovem que gostasse de ter a sua primeira casa, eram bastante simpáticas. Não eram apartamentos de luxo mas, os preços que se praticavam também não o exigiam.

 

Hoje em dia, arrendar casa em Lisboa, para um jovem, já se tornou numa odisseia! Aliás, arrisco-me mesmo a dizer que já se tornou numa anedota, daquelas que me fazem chorar, mas não é de tanto rir. Das duas uma: ou vamos de mente aberta conhecer estas modestas casitas.

 

Ou, em alternativa, decidimos não ter amor ao dinheiro e pagar 400€ por um quarto (um quarto leram bem), numa casa partilhada com estranhos, em que temos direito a usar o wc das 7h às 7:35 da manhã e das 21h as 21:20 da noite. Já para não falar da confusão de alimentos de todas as espécies, misturadas num pobre frigorífico que a ultima vez que viu um pano foi em 1930, quando a D.Madalena ainda vivia la em casa.

Reprodução: Jornal Sol

Na verdade, ainda existem por aí muitas casas em Lisboa, as típicas casas de estudantes, agora vendidas a hósteis ou alugadas a turistas a preços exorbitantes, com a desculpa de que “tem luz natural”, “é virada para Norte”, “tem vista para o Tejo”,entre outros pormenores. E se acham que estou a falar de um verdadeiro palácio, desenganem-se.

 

São casas, agora remodeladas, com 10 a 15 metros quadrados, em que o sofá faz de cama e a bancada de cozinha de mesa de refeições. Têm de pedir licença à almofada para colocar o prato, e se pensam em ter alguma vida social e convidar amigos para jantar, ou vão a um restaurante ou é melhor começarem a convidar um de cada vez para não se atropelarem.

 

Mas ainda não contei tudo! Por vezes, encontram-se os chamados “achados”, em que o anunciante da casa promete uma habitação mobilada com despesas (água e luz) incluídas, a um preço razoável. O problema é que, provavelmente, se esqueceu de mencionar que o mobiliário apenas inclui um colchão, no lugar de uma cama, um frigorífico que tem o congelador avariado, com a promessa de ser reparado no fim do mês (nunca acontece) e, mais uns quantos móveis em que se vê que o intuito foi apenas não deixar a casa despida.

 

A casa que, supostamente, era mobilada e por isso tinha um preço acessível, deixou de o ser, tendo em conta que ninguém está a pensar viver um mês sem congelador ou a dormir no chão o resto da vida. O mais grave disto tudo, é que a maioria destes senhorios nem fatura passam, tornando o negócio clandestino.

 

Portanto, eis a única alternativa que me ocorre no momento após a procura falhada e exaustiva da casa perfeita: viver debaixo da ponte. Já ouvimos esta expressão várias vezes, mas tendo em conta as características consideradas no preço de uma renda, para mim nunca uma expressão fez tanto sentido! Luz natural não podia haver melhor e a vista para o Tejo, é só escolherem uma ponte com boa localização.

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