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“A CPLP é como uma casa: nem todos irmãos são iguais”, diz Salimo Abdula

(Imagem: Reprodução Plataforma de Macau)

Numa entrevista concedida ao Jornal Esquento, editado e publicado em Maputo, Moçambique, Salimo Abdula, presidente da Confederação Económica da CPLP, falou dos desafios e perspectivas da Confederação, leia a seguir a entrevista na íntegra:


Existem muitas diferenças entre os países da CPLP. “Uns são doutores, outros são pedreiros, outros são marginais. Mas somos da mesma família”, ilustra Salimo Abdula. Os constrangimentos são muitos, mas o presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) não tem dúvidas: o caminho é maior integração. Em Lisboa para uma conferência de empresas exportadoras organizada no final de junho, Salimo Abdula pediu liberdade de circulação de pessoas e capitais.

É difícil identificar a atividade da confederação. Somos nós que andamos distraídos ou têm sido pouco ativos?
As duas coisas. Aquela CPLP com base na língua e na cultura fazia sentido até ao momento, mas se não criássemos alguma consistência, iria desmoronar-se.

O objetivo da confederação é ser o braço económico da CPLP?
Os empresários apelaram a outra postura, uma solução para a imagem desgastada da CPLP. Um dos nossos grandes objetivos é que haja livre circulação de bens, capitais e serviços.
Não faz sentido chamar-lhe comunidade, quando não podemos circular dentro de casa. Se estiver numa casa, mas tiver de ficar no seu quarto, não se considera parte da família. A língua representa cerca de 17% dos custos das empresas, mas só tem efeito económico se for potenciado pela livre circulação. Queremos também criar a marca CPLP para identificar produtos da comunidade.

Em alguns casos a marca nacional não é mais forte? Estou a pensar no Brasil.
Tem toda a razão, mas se começamos com os problemas não temos soluções. O nosso lema é: “se queres ir rápido, vai sozinho; se queres ir longe, vamos juntos“. É um sonho. Mas temos de começar por algum lado. Temos de eliminar tabus.

Que tabus?
O fator de colonizados e colonizadores [existiu] sempre… Mas passaram 40 anos. É muito tempo. Não podemos fazer das gerações vindouras reféns. Temos de ser pragmáticos. A CPLP está estrategicamente colocada: nove países, quatro continentes. Podemos oferecer lazer de qualidade, grande produção de alimentos e dentro de duas décadas representaremos 25% do “oil and gas“.
Portugal teria mais a ganhar com uma inserção pragmática na CPLP. Está a gerir a sua atualidade, hipotecando o seu futuro. O presente se calhar é a União Europeia, mas no futuro terá mais benefícios em juntar-se à causa da CPLP.


“Se estiver numa casa, mas tiver de ficar no seu quarto, não se considera da família”.

“Bem-haja Angola por investir em Portugal e não noutro país”.


Para um empresário português que queira Investir em alguns países da CPLP, a aplicação da lei ainda é um problema?
Sim, tem de ser melhorado. Há dificuldades, mas também grandes oportunidades. Primeiro temos de abrir e depois gerir a abertura. Sou moçambicano e vejo dificuldades para um empresário sul-africano operar em Moçambique. Acha aquilo muito corrupto. Mas não é! O problema é a cultura de negócios, que é totalmente diferente. Um português vai entender muito mais rápido.

Não sei se isso é um elogio…!
É um elogio porque nos entendemos.

Como se compatibilizam regimes tão diferentes como a Guiné Equatorial ou até Angola com países como Portugal ou Brasil?
Dei o exemplo de uma casa para falar de comunidade. Nem todos os irmãos são iguais. Uns são doutores, outros são pedreiros, outros são marginais. Mas pertencemos à mesma família e temos de conviver. Não nos vamos intrometer na soberania de cada país, vamos buscar sinergias positivas. Países como a Guiné Equatorial terão benefícios em abrir-se ao mundo. Foi o penúltimo país que visitámos e surpreendeu-nos.
Podem colocar-se várias questões, mas se os cidadãos têm uma qualidade de vida melhor que grande parte dos países africanos, estamos a discutir o mais importante?

Muitas vezes o investimento angolano em Portugal é muito criticado. Isso incomoda-o?
Bem-haja Angola por investirem Portugal e não noutro país. Portugal tem dificuldades, precisa de criar emprego e estes países irmãos podem ser uma solução.


Perfil de Salimo Abdula: A face empresarial da CPLP

Natural de Moçambique, Salimo Abdula é um empresário que começou este ano a cumprir o mandato de quatro anos à frente da Confederação Empresarial da CPLP. Foi eleito por unanimidade dos nove países. Abdula é ainda presidente da Mesa da Assembleia Geral da Confederação das Associações de Económicas de Moçambique, presidente do Conselho de Administração da lntelec Holdings S.A. e presidiu até a bem pouco tempo o Conselho de Administração da Vodacom Moçambique.

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